Obras

Sobre as Obras e o Coletivo:

As cidades também acreditam ser obras da mente ou do acaso,

mas nem o outro basta para sustentar as suas muralhas. De

uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete

maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas.

Ítalo Calvino

Ao escolher esse grupo de 10 artistas, procuramos tomar o espaço urbano e a vida em sociedade da cidade de Vitória da Conquista, tendo como foco um universo multidisciplinar para pensar, informar e motivar os habitantes da nossa região em seus desejos na busca de sentido para si e para o seu mundo.

Durante um ano aproximadamente estudamos e pensamos a cidade de Vitória da Conquista, e o resultado desses pensamentos acerca de um tema central: o fluxo migratório. O ir e vir dinâmico que faz da nossa cidade um referencial para microrregião. O deslocamento que faz desta cidade o ponto de partida ou de chegada para os que buscam melhores oportunidades. Foram transformados em nove obras de arte contemporânea idealizadas especialmente para a intervenção urbana, e buscaram relacionar com a arquitetura, o espaço, a sociedade, a maneira de lidar com o tempo, estabelecendo situações de trocas e aproximação com as pessoas na cidade. As obras nos convidam a nos reconhecer em aspectos políticos e poéticos e em sua totalidade são constituídas pelos sentidos que se confere a elas e pelo lugar que ocupam nas nossas experiências cotidianas com a força das pequenas narrativas.

Esperamos que ao ter conduzido as experiências e pensamentos poéticos desses artistas diretamente ao público, tenhamos contribuído positivamente de alguma maneira com a dessacralização das artes visuais transformando esses dias em algo significativo para o nosso interior.

Rogeria Maciel e Rogério Oliveira

Curadores

Histórias de Tonhão - Gil Brito - HQ

Livre Feira - Britto Filho - (Vídeoarte - distribuição de pipocas antes da exibição na Rodoviária)

Palavras Refletidas - Lu Rosário (Poesia Falada)

Adeus Supérfluos - Rita Rizério (Performance - ônibus urbano)

Ponto - Shirley Ferreira - (Teatro Clown)

Passagem em Branco - Date Sena - (Colagem)

Hi- tech - Piratas do Caribe e de toda Parte - Mauri Gralha - (Instalação Itinerante e Performance)

Viajando no Varal - Mônica Lula (Instalação Fotográfica)

Papo Cabeça - Vanélio Medeiros (Performance)

Poesia, Contos e Outros Textos - Victor Pereira Sousa (poesia visual)

Gil Brito

O jornalista e chargista Gil Brito nasneu em Caculé porque faltava estrutura na pequena Guajeru, no interior do Estado da Bahia, onde foi criado. Em busca de melhores oportunidades se mudou para Vitória da Conquista, onde fez curso de jornalismo.

É um leitor incansável. Um jovem de 22 anos com o pé no passado dos fatos históricos e com a cabeça no futuro. Os traços dos desenhos que faz desde criançarevelam um jovem atento aos acontecimentos da realidade onde vive. Senso crítico que resultou no convite para ser colaborador da revista Caros Amigos, que circula em todo o Brasil, onde publica charges mensalmente.

O gibi Histórias de Tonhão traz três histórias que abordam temas relacionados à arte contemporânea. Histórias de Tonhão tem uma tiragem de 2.000 exemplares que serão distribuídos entre crianças e adolescentes de dois programas de assistência social de Vitória da Conquista: Programa Conquista Criança e Programa de Erradicação do Trablho Infantil - PETI. O Múltipla Cidade irá oferecer uma oficina para os educadores desses dois programas afim de qualificar a distribuição e instruí-los a utilizar o gibi na apresentação da arte contemporânea para os beneficiados pelos citados programas.

Projeto Gráfico: Ailton Fernades

Victor Pereira Sousa

Poesia, Contos e outros Textos - poesias visuais sobre tabuletas. O cotidiano, as questões polêmicas, a ansiedade da demora na espera de um ônibus apresentados em formas sofisticadas e sem excessos fazem com que a intenção do poeta ganhe ainda mais força, sobretudo pelo sentimento que as palavras relacionam com as imagens nos fazendo transitar entre a razão e a subjetividade.

Mônica Lula

Iniciou sua carreira como fotojornalista, trabalhou como free lancer em jornais e revistas. Em 1992 muda-se para Salvador - BA, onde trabalhou em um jornal alternativo. Atualmente trabalha com fotografia art´stica, social e jornalistica.

Participou do Projeto e Exposição CULTURA, TEMPO, IDENTIDADE, LUGAR de curadoria da artista visual Rogeria Maciel - em Vitória da Conquista - BA e do Salão Regional de Artes Visuais - Promovido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia - Edição Vitória da Conquista - 2008. Vice e trabalha em VItóriA da Conquista - BA

Do seu trabalho artístico, extrai poesia a partir de ações simples tendo a figura humana como motivoprincipal, capturando suas emoções e expressões, sobretudo de idosos e crianças. Na instalção fotográfica Viajando no Varal criada especialmente para o Múltipla Cidade, a fotoartista utiliza-se da forma de objetos do cotidiano, a exemplo de colchas, fronhas e camisas como suporte, para no apresentar com seu olhar atento e sensível os costumes, o cotidiano ou o trabalho da população da região. Trabalho que recebe e compahia das poesias de Lu Rosário.

Lu Rosário

É estudante do curso de Letras Vernáculas na Universiadade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. É poetisa e escreve regularmente no blog Sem Pudor, de cunho pessoal. Além disso, possui publicações nos sites para escritores Garganta da Serpente e Recanto das Letras.

Na exposição Múltipla Cidade, o efeito das palavras de Lu Rosário foi refletido em dois trabalhos. Na instalação fotográfica Viajando no Varal, em que ela versou diante das fotografias de Mônica Lula e na instalação itinerante Hi- Tech - Piratas do Caribe e de Toda Parte, de Mauri Gralha. Na primeira, os versos de Palavras Refletidas acompanham as fotografias; na segunda, os versos ecoam a partir de um aparelho de som. Nesse sugundo trabalho, Lu Rosário e Mauri Gralha fizeram uma viagem no ônibus que leva e traz passageiros do centro da cidade para os povoados de Caiçara e Tigre, na zona rural. Falaram de palavras e imagens.

Mauri Gralha

Fotógrafo autodidata, iniciou sua carreira em 2001. Com uma máquina "amadora", registrava grupos de turistas que visitavam as grutas da Região Sudoeste da Bahia. Atualmente registra eventos musicais e shows típicos da região, enfatizando o humor desses momentos. Participou como fotógrafo do Projeto e Exposição Coletiva CULTURA, TEMPO, IDENTIDADE, LUGAR, de curadoria de Rogéria Maciel, em Vitória da Conquista - BA. Vive e trabalha em Vitória da Conquista e Anagé - BA.

A instalação itinerante e performance Hi-Tech - Piratas do Caribe e de Toada Parte tem como inspiração o designer vernacular dos carrinhos usados por vendedores ambulantes de CD's e DVD's piratas. Em vez de capas de filmes ou trabalhos musicais, fotografias de uma gente familiar das lentes do fotógrafo. Impressiona a aproximidade e intimidade com que Gralha se aproxima de seus objetos. Ele retrata elementos fundamentais da cultura da região. No lugar de música, produtos da cultura de massa, esse carrinho emite o som das poesias recitadas e de autoria de Lu Rosário. A instalação itinerante é conduzida pela bicicleta, meio de transporte utilizado pelo fotógrafo para o seu deslocamento na cidade. Durante os dias de exposição, ele percorreu os cinco espaços vestido como um cavalheiro conquistense da década de 1940. Um vendedor de poesias.

Rita Rizério

Jornalista formada pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. É especialista em Comunicação e Marketing Empresarial. Atou no Teatro Odilon Costa, em Morro do Chapéu - Bahia, em oito peças teatrais.

Na performance Adeus Supérfluos tem no trajeto o espanto de muitas pessoas diante de uma mulher e muitos supérfluos, já que se trata de uma anônima, fortemente protejida por quatro seguranças. Nas malas bagagem cultural, a crítica ao consumo exacerbado nos convida a refletir sobre as inversões de valores do homem contemporâneo.

Figurino: Ana Claudite e Mércia Andrade.

Shirley Ferreira

É atriz. Durante as atividades do Múltipla Cidade, prestou vestibular e foi aprovada na Escola de Teatro da UFBA. Já passou pelas várias funções do processo de criação teatral - iluminação, sonoplastia, atriz e assistente de direção . Atuou em espetáculos como S.O.S Pindorama O Vôo, espetáculos dirigidos po Roberto de Abreu. Também atuou em espetáculos infantis como O Menino que ficou preso no computador.com.br, de Gilsergio Botelho.

Ponto, um espetáculo clown encenado por quatro jovens atores, provoca o riso com histórias engraçadas muitas vezes improváveis de acontecer num ponto de ônibus ou a emoção, na medida em que fala das fantasias que criamos em momentos de longa espera. Certamente, um convite à imaginação.

Atores: Don Dellarquezza, Iara Soares, Mário Luz e Shirley Ferreira.
Sonoplasta: Cristiano Lopes.
Sonorização: Jai Connexão
Figurino: Vanélio Medeiros

Date Sena

É artista plástico e percussionista. Já participou de várias edições dos Salões Regionais de Artes Plástcas - promovidos pela Fundação do Estado da Bahia. Tendo sido premiado em 1997, 1999 em 2006, recebeu o prêmio oficial, foi selecionado para o Salão de Artes Plásticas de Santos - SP. Realizou cinco exposições individuais e outras 23 coletivas.

Na Instalação Passagem em Branco, silhuetas humanas em cores vibrantes, passam despercebidas em meio à grande movimentação dos pontos de ônibus. Essa foi a ideia do artista. A obra perpassa o grafite e as pichações urbanas, colagens, sinalizações e ao anônimo.

Britto Filho

Um jornalista de 28 anos, formado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. Nasceu em Vitória da Conquista, onde vive e trabalha. Em julho de 2007, dirigiu o documentário Nosso Segundo Lar, um vídeo de aproximadamente 36 minutos, que conta com sensibilidade e apego aos detelhes o dia-a-dia dos moradores do albergue Nosso Lar, instituição filantrópica mantida pela União Espírita de Vitória da Conquista.

Em seu Livre Feira, um vídeo de 5' 38" sobre a CEASA de Vitória da Conquista, mostra detalhes que muitas vezessão desconhecidos daqueles que circulam pelas barracas como meros consumidores ou fregueses, como normalmente são chamados aqueles que fazem compras numa feira. Livre Feira é um audiovisual feito com liberdade. Uma câmara. um microfone, um olhar e ouvidos atentos. Som e imagem têm a mesma tessitura

Câmara: Nilton Dalemberth

Edição e montagem: Emanuel Nem Moraes

Projeção: João Menezes

Vanélio Medeiros

Designer de moda, figurinista e cenógrafo. Desenvolve uma pesquisa na produção de linhas com fibra de banana e reciclagem de tecidos. Tem como fonte de inspiração a obra pictórica de Henri- Émile- Benoît Matisse, a natureaza, os antigos teares e os bordados da vovó.

Na performance Papo Cabeça, Medeiros produziu esculturas feitas a partir de material encontrado em lojas populares, roupas em juta natural e plataformas de madeira, couro e tecido, para dar vida a figuras saídas de um lugar da imaginação que parece brincar com a desaceleração do tempo.

Modelos: Don Dellerquezza,Thayanne Rodrigues, Mário Luz e Mônica Alves

Percussão: Renato Soares

Luto

Lamentavelmente, uma semana depois das ações urbanas da Múltipla Cidade recebemos a triste notícia da morte de Cristiano Lopes, o sonoplasta e editor da trilha sonora do espetáculo O Ponto. Cristiano foi brutalmente assassinado na última quinta-feira, 4 de março. Os motivos do crime são desconhecidos. Para a equipe Múltipla Cidade, vai ficar a lembrança de um jovem responsável, competente, educado e que vestiu a camisa da nossa proposta de levar a arte para a população.

Para a família os nossos sentimentos. Para Cristiano, o nosso muito obrigado pela dedicação e entusiasmo sempre demonstrado durante as apresentações. A arte precisa de gente como você: comprometida e que se alegra em ver os outros felizes...

Descanse em paz.

Curadoria

Rogeria Maciel

É graduada em Artes Plásticas pela Universidade Estadual de Minas Gerais, Escola Guignard. É especialista em Gravura em Metal, pela Universidade Estadual de Minas Gerais, Escultura Contemporânea, pela Sheffield Hallem University - Inglaterra, Antropologia Visual – Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Metodologia do Ensino Superior pela Fundação Visconde de Cairu e Produção Cultural e Mídia pelas Faculdades Jorge Amado.Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Escultura, Fotografia, Produção Cultural, Curadoria de Exposições, Arte-Educação, Arte Multimídia e Educação, nos três níveis educacionais, ministrando disciplinas relacionadas à Arte e Cultura Contemporâneas.Desenvolve seu trabalho autoral, com premiações e participações em importantes salões de arte contemporânea nacional e internacionalmente, foi representante do Estado da Bahia como articuladora cultural no Rumos Visuais – Itaú Cultural – SP. Vive e trabalha em Vitória da Conquista, Salvador - BA e Belo Horizonte – MG.

Rogério Oliveira

É jornalista formado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB e mestrando em Memória: linguagem e sociedade pela mesma instituição. Atuou como repórter da Rede Bahia de Televisão e tem produção fotográfica autoral. Participou da exposição Cultura, Tempo, Identidade, Lugar como fotógrafo. No ambiente acadêmico, desenvolve pesquisa sobre a relação entre fotografia e costumes. Vive e trabalha em Vitória da Conquista – BA.

Antes que o sol raiasse...

Era noite sexta-feira quando começamos a montar a exposição na CEASA. Apesar de ser a quinta vez que fazíamos isso. O cansaço era notável no rosto de cada um dos que estavam na linha de frente participando de todas as montagens.
A montagem na CEASA tinha, inegavelmente, um sabor especial. Seria a última intervenção urbana. Além disso, o lugar é muito especial para quem vive em Vitória da Conquista. É onde pessoas de todas as classes, raça, credo se encontram. Um ambiente de fartura também. Ali damos muita risada com o jeito peculiar de cada barraqueiro. Escutamos histórias curiosas vindas do povo da roça. Aprendemos sobre raízes, plantas que curam, chás...

O resultado não poderia ser diferente. A equipe Múltipla Cidade estava inspirada nesse último dia.