Como disse um amigo meu: “Não basta ser jornalista, tem de participar”... Isso depois de contá-lo sobre as picadas de abelha recebidas na cabeça, pescoço e braço durante uma reportagem. Com o antebraço igual ao do Popeye trabalhei no sábado esperando um turninho de folga para fazer um som com os amigos, o maridão e o novo morador do 302. Meu persa Chicão. Eis que um dia antes, o ídolo atual Luan Santana passa mal enquanto se apresenta no Festival de Verão em Salvador. Um dia depois da apresentação interrompida, Luan deveria fazer um show aqui em Vitória da Conquista... Aí... Fu... Milhares de telefonemas, orientações, mudanças nos horários... É fato: Se o Gurizinho faz o show bem de saúde aqui é notícia. Se não, também é.
O destino ferrou comigo e fez a minha escala coincidir com a dele. Seria eu a presenciar o meteoro caindo em Conquista? “É sim, minha fia” disse o destino rindo ironicamente. Mas por ironia, destino ou tudo isso junto, semanas antes havia lido uma excelente matéria da jornalista Paula Scarpin na revista Piauí sobre a “construção” de Luan Santana. Amei. Indiquei. Instiguei. Comecei a ver a fatídica ordem como uma coisa proveitosa.
Às 21h da noite agradável de sábado depois de uma dose de Profenid na veia e beijinhos do maridão, estava eu no Parque de Exposições Teopompo de Almeida, meu quintal. Moro a alguns metros do local. Entrar no espaço reservado à imprensa não foi demorado, mesmo com os 345.489 seguranças pra colocar ordem na budega quando o menino do Mato Grosso do Sul chegasse. Por ali, algumas adolescentes apertadas em micro vestidos, gigantescos saltos e franjas impecáveis. Chorosas. Uma hora depois a van chega e todo o burburinho começa. O carro estaciona e rapidamente todo mundo desce. Me pergunto “Oxe, cadê a criatura?” Isso. Ele desceu e nem percebi. Soube que o menino magrelo, de sandálias e boné que entrara naqueles camarins parecidos aos banheiros químicos, porém maiores e com ar condicionado, era Luan Santana.
Por uma hora esperamos Luan trocar de roupa, a pedido da educada assessora. Detalhe: assessor de astro, educado, é quem nem orquídea no sertão de Campo Alegre em Brumado. Neste tempo notei a backing vocal fumando caiporamente - neologismo meu. Mais tarde cantaria axé.
Vi a carreta utilizada para o transporte de enormes caixas de painéis de Led e torres de antenas de equipamento sem fio. O show seria grande. Luan até voava no palco dizia a matéria da Piauí.
É chegada a hora de conversar com o astro teen. O menino é enorme assim como o seu quadril. Voltarei a falar disso a frente. O pó compacto caíra nos cílios. Eu, que manjo de maquiagem, queria mesmo abanar aquelas cílios lindos e dar um jeito naquilo. A figura é bonita. A cara de neném desaparece quando conversa de forma coerente.
Sem mais delongas, a educada assessora me reserva um lugar providencial: a lateral do palco. A trinta passos de Luan. Fiquei em meio ao grupo de apoio. Entre milhares de cabos, botões e plugs. Sentei sobre uma caixa enorme. Nela daria pra comportar dois do finado cantor havaiano Israel Kamakawiwo'ole . O palco tem uma rampa por onde Luan deve descer em segundos. A banda começa e o dedo do técnico em efeitos especiais dispara o que marcaria o show: fogos de artifícios e torres de fogo. Parece São João. É fogo na lateral da rampa, do palco, fogos de artifícios marcando os acordes principais das introduções e refrães. Fora a fumaça de gelo seco, ou será isso démodè? Coisa de quem tocava no antigo Odeon conquistense? Só sei que cantando “Adrenalina”, o meteoro cai e o público grita incessantemente. Pra decorar tabuada neguinho não tinha tanto fôlego, aposto.
Em meio aos efeitos, Luan canta uma dos sucessos segurando uma bazuca de onde sai fumaça. Adorei quando ele dá uma bazucada na cabeça da backing vocal cabelo-loiro- de-3-metros e ela sorri sem graça. Teria sido isso planejado? Vamos ser radicais, Luan, yeah!!!!!
No público vi poucos meninos...Pobres apaixonados suportando as namoradas embasbacadas nos ombros. As mais de 5 mil meninas atiram tudo no palco. Ursos, uma coisa redonda que acerta a mão direita do guitarrista, cartas como rolos de papel higiênico do Gulliver e uma tanga de renda vermelha. Isso. São adolescentes.
Uma música atrás da outra e todo mundo canta junto. Enquanto isso estava eu ao lado do produtor citado na Piauí como o “criador” do fenômeno meteórico. Quem quiser saber o nome vai à banca da Praça da Normal e compra a bendita revista. É sabido uma coisa: a cara do cara era de cansaço. Uma lista feita em duas folhas de papel indicava as 27 músicas que Luan cantaria em 1h30 de show e as pausas para as falas ensaiadas. Durante a apresentação, o Gurizinho corre muito, transpira horrores, rebola até o chão com uma fã, dá chocolate na boca da outra, no estilo neo Wando mesmo. Faz dancinha sensual-sanduíche com as backing vocals que tiram a blusa de manga longa do cantor. Aí é inevitável não notar o quadril redondo do menino. A retirada da camisa deixa evidentes os ombros estreitos. Fiquei com inveja. Queria aquele quadril.
É Meteoro, é Sinais, é Chocolate, haja nome pra música de amor. Ainda há espaço para covers de axé e forró regional. Óbvio, ele estava tocando na “suíça baiana”. Tem também o tipo de música regional mato-grossense, a chamamé. Enquanto isso recebo uma cotovelada no meu braço... No braço picado pela abelha. Penso em gemer, mas logo esqueci. Não dava pra perder tempo com isso, coisinha boba uma dor insuportável. Precisava ser mulher macho pra ver mais coisas. Era o técnico de efeitos especiais acoplando inúmeros fios num violão lindo. Não vi se era um Yamaha, sonho de consumo de marido ou um Godin, sonho de consumo meu. Perguntei e obtive a resposta. Seria uma cena do show onde Luan “toca” o violão entre os dois guitarristas e do braço, claro, explodem fogos. Ô Deus, já tava ficando quente ali. Abro espaço aqui para os músicos. Excelentes. Ensaiados. Detalhistas. Nada de facão-termo usado para os erros em alguns meios musicais. E todo mundo muito novo. A assessora educada não permite mais imagens dos meios de comunicação. Ficamos o cinegrafista e eu, a quem chamo de Betojones plantados esperando. Saber se o Luan teria outro piripaque ou não era uma questão de apenas três canções. Estava acabando. A hérnia da coluna de Betojones devia tá pesando junto com o equipamento velho. Pensei em cochilar e ele também, mas outras explosões, mais fogos e uma chuva intensa de papel picado prata daquele de grudar na boca enquanto a gente fala nos fizeram voltar à ativa e percebermos o cantor dando tchau do topo da rampa... Aí cantei em pensamento “... Explosões de sentimentos que eu nem puder acreditar!!!...”
Luan troca de roupa novamente pra descer do palco. São três trocas ao todo. Ele não voou desta vez. Esse show foi “menor”. O astro pop segue para atender a fila de fãs. Fiquei com pena do Gurizinho. Filas de fãs suadas, histéricas e de escovas perdidas. Por segundos vi luzes vindas de laternas por baixo da estrutura de metal do palco: eram seguranças buscando por alguma fã engalfinhada nas estruturas metálicas. E pode isso? Desisti de confabular comigo mesma.
Conclusão. Equipe com dinheiro é equipe profissional. Som, luz, montagem, roteiro, gestos e olhares. Tudo impecável. Repertório péssimo pra quem não gosta. Criatura afinadíssima, reconheço. Assessora educada é sempre educada. Organizadores rindo parecendo repórter feliz em vivo é lucro na certa.
Saio do Parque de Exposições satisfeita pensando neste texto. Com o segundo dvd de Luan Santana – precisei presentear um amigo - em mãos. Com o braço direito dolorido e não mais igual ao do Popeye e sim com o do Vermelho de HellBoy... Alguém já deve ter visto esse filme tosco. Sei disso.
E ainda por cima com um pensamento sobre Lulu “E não é que o sacana é simpático...”Eveline Mota
que texto bom de ler! adorei as impressões, opiniões e constatações...
ResponderExcluirPow Eve, que coisa boa de ler. adorei a sua narrativa e a epopéia a qual vc foi lançada.. não sei pq, tal fato me lembrou a divina comédia de Dante na parte dos ciclos dos infernos..rsrsrs Acredito sim que a voz dele seja bonita e tal, mas ele me parece muito hiper-fabricado assim como várias bandas e cantores que estão na moda, diga-se de passagem as bandas de roupas coloridas-flour. Nos anos 90 eram as bandas de pagode (raça negra, Negritude JR, Soweto, katinguelê, karametade e por aí vai)hoje temos os pacotes de sucesso efêmero como os chamados "sertanejos universitários" e as bandinhas da moda flour. Adorei msm o texto! Parabéns!!! Essa é a nossa garota jequieense!
ResponderExcluirCabeça!! Muito massa o texto.
ResponderExcluirVocê emergiu de picadas de abelha pra viver uma noite emocionante ao lado do fenômeno pop-brega-sertanejo.Isso que eu chamo de profissão de risco.rsrs
Beijos Thú!
Maravilhoso de ler...amei amiga a sua narrativa!! Cada dia mim orgulho mais de você!!! Um beijão, minha repórter mais linda do mundo!!!
ResponderExcluirMuito bom texto Eve... Adoreiiii...
ResponderExcluirvc é sucesso!!
Beijão!
Renatinha
Muito bom! Agora, conhecendo seu lado gonzo, sou mais fã.
ResponderExcluirAnsioso por novas postagens.