domingo, 6 de fevereiro de 2011

Terás Wando uma versão High Tech?

Como disse um amigo meu: “Não basta ser jornalista, tem de participar”... Isso depois de contá-lo sobre as picadas de abelha recebidas na cabeça, pescoço e braço durante uma reportagem. Com o antebraço igual ao do Popeye trabalhei no sábado esperando um turninho de folga para fazer um som com os amigos, o maridão e o novo morador do 302. Meu persa Chicão. Eis que um dia antes, o ídolo atual Luan Santana passa mal enquanto se apresenta no Festival de Verão em Salvador. Um dia depois da apresentação interrompida, Luan deveria fazer um show aqui em Vitória da Conquista... Aí... Fu... Milhares de telefonemas, orientações, mudanças nos horários... É fato: Se o Gurizinho faz o show bem de saúde aqui é notícia. Se não, também é.

O destino ferrou comigo e fez a minha escala coincidir com a dele. Seria eu a presenciar o meteoro caindo em Conquista? “É sim, minha fia” disse o destino rindo ironicamente. Mas por ironia, destino ou tudo isso junto, semanas antes havia lido uma excelente matéria da jornalista Paula Scarpin na revista Piauí sobre a “construção” de Luan Santana. Amei. Indiquei. Instiguei. Comecei a ver a fatídica ordem como uma coisa proveitosa.

Às 21h da noite agradável de sábado depois de uma dose de Profenid na veia e beijinhos do maridão, estava eu no Parque de Exposições Teopompo de Almeida, meu quintal. Moro a alguns metros do local. Entrar no espaço reservado à imprensa não foi demorado, mesmo com os 345.489 seguranças pra colocar ordem na budega quando o menino do Mato Grosso do Sul chegasse. Por ali, algumas adolescentes apertadas em micro vestidos, gigantescos saltos e franjas impecáveis. Chorosas. Uma hora depois a van chega e todo o burburinho começa. O carro estaciona e rapidamente todo mundo desce. Me pergunto “Oxe, cadê a criatura?” Isso. Ele desceu e nem percebi. Soube que o menino magrelo, de sandálias e boné que entrara naqueles camarins parecidos aos banheiros químicos, porém maiores e com ar condicionado, era Luan Santana.

Por uma hora esperamos Luan trocar de roupa, a pedido da educada assessora. Detalhe: assessor de astro, educado, é quem nem orquídea no sertão de Campo Alegre em Brumado. Neste tempo notei a backing vocal fumando caiporamente - neologismo meu. Mais tarde cantaria axé.

Vi a carreta utilizada para o transporte de enormes caixas de painéis de Led e torres de antenas de equipamento sem fio. O show seria grande. Luan até voava no palco dizia a matéria da Piauí.

É chegada a hora de conversar com o astro teen. O menino é enorme assim como o seu quadril. Voltarei a falar disso a frente. O pó compacto caíra nos cílios. Eu, que manjo de maquiagem, queria mesmo abanar aquelas cílios lindos e dar um jeito naquilo. A figura é bonita. A cara de neném desaparece quando conversa de forma coerente.

Sem mais delongas, a educada assessora me reserva um lugar providencial: a lateral do palco. A trinta passos de Luan. Fiquei em meio ao grupo de apoio. Entre milhares de cabos, botões e plugs. Sentei sobre uma caixa enorme. Nela daria pra comportar dois do finado cantor havaiano Israel Kamakawiwo'ole . O palco tem uma rampa por onde Luan deve descer em segundos. A banda começa e o dedo do técnico em efeitos especiais dispara o que marcaria o show: fogos de artifícios e torres de fogo. Parece São João. É fogo na lateral da rampa, do palco, fogos de artifícios marcando os acordes principais das introduções e refrães. Fora a fumaça de gelo seco, ou será isso démodè? Coisa de quem tocava no antigo Odeon conquistense? Só sei que cantando “Adrenalina”, o meteoro cai e o público grita incessantemente. Pra decorar tabuada neguinho não tinha tanto fôlego, aposto.

Em meio aos efeitos, Luan canta uma dos sucessos segurando uma bazuca de onde sai fumaça. Adorei quando ele dá uma bazucada na cabeça da backing vocal cabelo-loiro- de-3-metros e ela sorri sem graça. Teria sido isso planejado? Vamos ser radicais, Luan, yeah!!!!!

No público vi poucos meninos...Pobres apaixonados suportando as namoradas embasbacadas nos ombros. As mais de 5 mil meninas atiram tudo no palco. Ursos, uma coisa redonda que acerta a mão direita do guitarrista, cartas como rolos de papel higiênico do Gulliver e uma tanga de renda vermelha. Isso. São adolescentes.

Uma música atrás da outra e todo mundo canta junto. Enquanto isso estava eu ao lado do produtor citado na Piauí como o “criador” do fenômeno meteórico. Quem quiser saber o nome vai à banca da Praça da Normal e compra a bendita revista. É sabido uma coisa: a cara do cara era de cansaço. Uma lista feita em duas folhas de papel indicava as 27 músicas que Luan cantaria em 1h30 de show e as pausas para as falas ensaiadas. Durante a apresentação, o Gurizinho corre muito, transpira horrores, rebola até o chão com uma fã, dá chocolate na boca da outra, no estilo neo Wando mesmo. Faz dancinha sensual-sanduíche com as backing vocals que tiram a blusa de manga longa do cantor. Aí é inevitável não notar o quadril redondo do menino. A retirada da camisa deixa evidentes os ombros estreitos. Fiquei com inveja. Queria aquele quadril.

É Meteoro, é Sinais, é Chocolate, haja nome pra música de amor. Ainda há espaço para covers de axé e forró regional. Óbvio, ele estava tocando na “suíça baiana”. Tem também o tipo de música regional mato-grossense, a chamamé. Enquanto isso recebo uma cotovelada no meu braço... No braço picado pela abelha. Penso em gemer, mas logo esqueci. Não dava pra perder tempo com isso, coisinha boba uma dor insuportável. Precisava ser mulher macho pra ver mais coisas. Era o técnico de efeitos especiais acoplando inúmeros fios num violão lindo. Não vi se era um Yamaha, sonho de consumo de marido ou um Godin, sonho de consumo meu. Perguntei e obtive a resposta. Seria uma cena do show onde Luan “toca” o violão entre os dois guitarristas e do braço, claro, explodem fogos. Ô Deus, já tava ficando quente ali. Abro espaço aqui para os músicos. Excelentes. Ensaiados. Detalhistas. Nada de facão-termo usado para os erros em alguns meios musicais. E todo mundo muito novo. A assessora educada não permite mais imagens dos meios de comunicação. Ficamos o cinegrafista e eu, a quem chamo de Betojones plantados esperando. Saber se o Luan teria outro piripaque ou não era uma questão de apenas três canções. Estava acabando. A hérnia da coluna de Betojones devia tá pesando junto com o equipamento velho. Pensei em cochilar e ele também, mas outras explosões, mais fogos e uma chuva intensa de papel picado prata daquele de grudar na boca enquanto a gente fala nos fizeram voltar à ativa e percebermos o cantor dando tchau do topo da rampa... Aí cantei em pensamento “... Explosões de sentimentos que eu nem puder acreditar!!!...”

Luan troca de roupa novamente pra descer do palco. São três trocas ao todo. Ele não voou desta vez. Esse show foi “menor”. O astro pop segue para atender a fila de fãs. Fiquei com pena do Gurizinho. Filas de fãs suadas, histéricas e de escovas perdidas. Por segundos vi luzes vindas de laternas por baixo da estrutura de metal do palco: eram seguranças buscando por alguma fã engalfinhada nas estruturas metálicas. E pode isso? Desisti de confabular comigo mesma.

Conclusão. Equipe com dinheiro é equipe profissional. Som, luz, montagem, roteiro, gestos e olhares. Tudo impecável. Repertório péssimo pra quem não gosta. Criatura afinadíssima, reconheço. Assessora educada é sempre educada. Organizadores rindo parecendo repórter feliz em vivo é lucro na certa.

Saio do Parque de Exposições satisfeita pensando neste texto. Com o segundo dvd de Luan Santana – precisei presentear um amigo - em mãos. Com o braço direito dolorido e não mais igual ao do Popeye e sim com o do Vermelho de HellBoy... Alguém já deve ter visto esse filme tosco. Sei disso.

E ainda por cima com um pensamento sobre Lulu “E não é que o sacana é simpático...”

Eveline Mota

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O pai de Henri e Leica no Lomantão




Enquanto Vitória da Conquista e Camaçari disputavam a quarta partida pelo Campeonato Baiano de Futebol de 2011, fotografávamos. Era um grupo reunido em torno da formação do FX Fotoclube. Deste grupo fazia parte Nei Dantas, pai de Henri. O filho de um fotógrafo, com um nome destes, só pode ser uma homenagem. E acertou quem pensou Henri Cartier-Bresson, o francês que estimulou várias gerações a clicar, inclusive pelo menos 80% daquele grupo.
Lembro-me de que Nei foi o primeiro a apontar a câmera para um objeto. A lente 170mm daquela Nikon D-40 foi apontada para a direção dos eucaliptos tradicionais do Lomantão. No meio daquela luz, convidativa para qualquer fotógrafo, posavam homenzarrões fazendo aquele xixizinho (ou seria ÃO, como na propaganda da cerveja do aumentativo), executando uma pequena vazão de algumas latinhas de cerveja.
De longe, avistava Nei dando risada ao ver no visor o resultado de sua meninice de gente grande. Parei a me perguntar como é que os torcedores ainda não haviam feito um protesto no estádio. Não pelo ato do fotógrafo, mas pelo fato de que não podem comprar uma cerveja sequer dentro do Lomantão, do mesmo modo como não se pode consumir a gelada em qualquer outro estádio do Baianão.
Na falta de homens sóbrios transformando-se em bêbados a gente acaba prestando atenção em outras coisas. E uma delas diz respeito justamente à fotografia. Do alto da arquibancada identifiquei Zé Silva. Fotógrafo experiente, com muitos anos de cobertura jornalística pelo Jornal A Tarde. Naquela ocasião, titio, como costumo chamá-lo, estava a serviço do site Vitória da Conquista. Zé Silva, para quem não sabe, é filho de Seu José, cuja única referência que tenho é a seguinte: quando Zé Silva era criança, Seu José tinha uma cadela que se chamava Leica.
Enquanto Nina e eu morríamos de dar risada na arquibancada, com a resenha que os torcedores faziam da sina do placar eletromecânico do Lomantão, eu ficava delirando com esta coincidência. Nei tem um filho chamado Henri, em homenagem a Bresson, o responsável por eternizar esta marca alemã de câmera fotográfica, a Leica.
Mas pra falar a verdade eu me divertia mesmo ao pensar nas cenas:
- Leica, passa aqui! – E Zé dando risada com aquele riso sarcástico dele, quase que mijando nas calças de tanto rir das travessias de Leica.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Não conheço este time - parte 2

O repórter de uma grande rede de televisão pergunta para o jogador do Bahia:
- Você já ouviu falar do time X? – Isto se referindo a um time de Vitória da Conquista, contra quem vai jogar na estréia do campeonato.
O jogador responde:
- Não! Nunca ouvi falar. Não conheço.
No domingo tão esperado, a equipe do interior, jogando em casa, vence o da capital e jogadores e torcedores veem no resultado uma resposta à maneira pedante como o tal jogador se referiu ao time que dizia não conhecer.
Esta não é uma situação hipotética em relação à história do futebol baiano. É janeiro de 2011. O atacante do Bahia, Camacho, vindo do Flamengo como reforço para o tricolor, em entrevista para a televisão na semana que antecede a partida, disse que não conhecia o Serrano Sport Club. No domingo ensolarado, o Serrano vence o Bahia por 2 a 1. Pelas ondas do rádio, ouve-se o desabafo ofegante de jogadores que, usando as forças que ainda lhes restam, dão uma resposta ao que chamaram de falta de humildade, notada nas declarações de jogadores do Bahia.
Não é a primeira vez que isso acontece. É janeiro de 1999. O Bahia se prepara para a partida de estréia no campeonato baiano, que será realizada no Estádio Lomanto Júnior, em Vitória da Conquista, contra o Conquista Futebol Clube. Um repórter de uma grande rede de televisão pergunta para Dimba, atacante do Bahia, vindo do Botafogo, do Rio de Janeiro:
- Dimba, você conhece o Conquista? Sabe onde fica Vitória da Conquista?
No que Dimba responde:
- Não! Não conheço. Não sei onde fica.
Chega o domingo de sol e o Conquista vence o Bahia por 1 a 0, com gol do meio campo Naldinho. Ofegantes, os atletas conquistenses desabafam, exibindo aquele 1 a 0 como um troféu ante à maneira como o atacante do time da capital se referia ao do interior.
Cabe perguntar: nós sabemos onde ficam as três principais cidades de cada estado brasileiro? Se sou mineiro e sou contratado para jogar no Sport, de Recife, saberei quem é o Cabense, de Cabo de Santo Agostinho? Saberei dizer, em uma das minhas primeiras entrevistas para a TV de Recife, como chegar a Cabo de Santo Agostinho? Mais: será que na pergunta do jornalista está somente o desejo de botar lenha na fogueira e esquentar os bastidores do campeonato ou a pergunta, por si só, demonstra mesmo o sentimento de superioridade que eles da capital têm em relação ao interior?
Retornando aos fatos que motivaram este texto, parece-me que todas as perguntas têm um pouco de razão. Primeiro, é evidente que Camacho, imagino eu, nunca deve ter viajado pelas cidades baianas e, muito menos, consultado um mapa antes de ir para o Bahia. O conhecimento requer um mínimo de paciência e tempo. O processo é gradual, precisa de acontecimentos marcantes, pedagógicos e, a partir desta derrota, ele certamente vai saber onde fica Vitória da Conquista. Ele se lembrará muito bem das cores da camisa do Serrano.
Em segundo lugar, tentando responder a terceira pergunta, até acho que o repórter em sua função busca esquentar os momentos antecedentes à partida. Contudo, nota-se, muito mais, a influência de um posicionamento em relação aos times do interior. Vejamos como serão as manchetes dos veículos da capital. Certamente, leremos e ouviremos: Bahia e Vitória perderam na estreia do Campeonato Baiano. Em lugar de: Serrano e Colo-Colo vencem Bahia e Vitória na estreia do Campeonato Baiano.
Diante destes argumentos, dirão: o autor do texto concorda, então, que o desabafo dos jogadores do Serrano é pertinente. No que respondo: não, necessariamente! Estes desabafos não fazem o menor sentido. E explico.
Em uma das entrevistas ao final da partida, que ouvi pelo rádio, o jogador Samuel dizia que aquela vitória era uma resposta a tudo o que eles haviam acompanhado pela imprensa, por meio de notícias que falavam de uma superioridade do Bahia sobre o Serrano, de um favoritismo e, também, de jogadores que diziam não conhecer o Serrano. Até aí, ótimo. Porém, o próprio Samuel lembra como foi difícil a caminhada do Serrano até ali, falando da pré-temporada realizada na pequena cidade de Ituaçú. Nas palavras de Samuel, Ituaçú é definida por ele, como um lugar pequenininho, que não tem nada... Basta ouvir a entrevista cedida ao radialista conquistense Luiz Carlos Dudé, para comprovar que não é criação da minha cabeça.
E aí, o meu principal interlocutor é Samuel. Samuel, será que tratar Ituaçú como uma cidade que não tem nada, não dá no mesmo que dizer que eu não conheço Vitória da Conquista e não sei como chegar lá? Será que não ter conhecimento de que Ituaçú é a terra de gente notável como Moraes Moreira não lembra o tom daquela entrevista de Camacho? Será que não saber que Ituaçú tem lugares belíssimos, como a gruta da Mangabeira, não é sinônimo de não ter ideia de que pra que lado fica Vitória da Conquista?
Bom, tomara que o Quinze de Agosto ou o Esperança, times amadores de Ituaçú, consigam logo o acesso à primeira divisão do futebol baiano para que a gente possa noticiar a estreia com derrota do Serrano Sport Club no Campeonato Baiano, em lugar da vitória do Quinze ou do Esperança, na estreia do Baianão.

Rogério Luiz Oliveira, 16 de janeiro de 2011

sábado, 15 de janeiro de 2011

Projeto Gil e Outros Barros

Mais informações no meu blog: debalcao.blogspot.com
Ailton Fernandes (Chuchu)

O atraso do índio mongoió

Aquele que ainda não conhece o trabalho do jornalista Gil Brito não sabe o que está perdendo. Por muitas vezes, li os textos dele, feitos em forma de caricaturas, charges e outros traços que revelam um talento indiscutível. Há dois dias conversei com Gil. Informava-o sobre a realização do concurso realizado pelo Serrano, para escolha do desenho do mascote do clube: o índio mongoió. Pena ainda não poder publicar a proposta de Gil, que traz um simpático indiozinho com a bola no pé, neste texto, visto que o concurso ainda não teve o seu resultado divulgado. E, a propósito, esta é a questão que, por ora, me incomoda.
Durante a campanha de divulgação do concurso, definiu-se que o resultado seria divulgado no dia 14 de janeiro, às 22:00. Completam-se quase 24 horas de atraso e a divulgação não foi feita. Não me importa a crítica pela crítica, mas, sim, a preocupação em relação ao não cumprimento de uma proposta tão simples. Contextualizemos.
O Serrano acaba de retornar à primeira divisão do futebol da Bahia e há uma incipiente intenção de reestruturar a forma de gerir a equipe. Parece-me que, ao assumir tal postura, há a necessidade de evitar certos erros. Pode parecer demasiado preciosismo, mas não publicar o resultado do referido concurso na data prometida, é um erro de tal monta.
Poderia, muito bem, agir na ofensiva e cobrar as explicações da diretoria do Serrano. No entanto, em conversa com o Assessor de Comunicação, Daniel Silva, ficou claro, pra mim, que o simples atraso é fruto justamente da concepção administrativa apresentada pelos diretores do Serrano. Ou seja, não há uma palavra determinante de uma única pessoa e tudo é decidido de forma consensual. Desta vez, me diz o assessor, a reunião para escolher a melhor proposta de mascote não teve quórum e, por isso, foi adiada.
Que ótimo que é assim. É uma prova de que a diretoria passou imune à primeira possibilidade de provar do próprio veneno. Isto é, caso o mascote houvesse sido escolhido por um só diretor, a tese da diretoria multifacetada cairia por terra.
Mas será que aos candidatos foi possível interpretar o fato deste modo? Será que os torcedores fervorosos abstraíram este entendimento da não divulgação? Creio que nem todos puderam checar a informação com a assessoria de imprensa. Esta acabou sendo a única alternativa para esclarecimento do fato, pois o site oficial do Serrano não deu nenhum informativo sobre isso.
Buscando, no próprio futebol, o recurso a uma metáfora, penso que do mesmo modo como a torcida será intolerante diante de uma chance clara de gol perdida pelo experiente atacante Pena, poderá alguém não aceitar um deslize como este do tradicional Serrano. Do mesmo modo como ao treinador Elias Borges não é permitida a escalação equivocada e incoerente de sua equipe, à diretoria não é aceitável uma falha na montagem da comissão que escolherá a principal marca do clube.
Não nos enganemos, logo logo o fato de ter o índio mongoió como mascote vai reverberar substancialmente. Ainda bem que isso vai acontecer de modo natural e não precisaremos de um concurso para escolher o modo carinhoso como faremos referência ao Serrano Sport Club.

Rogério Luiz Oliveira

A cidade passa pelo campo de futebol

Nestes nossos diálogos com o espaço da cidade, estive pensando que uma cidade passa pelo campo de futebol. Seja ele de várzea, improvisado no quintal de uma casa, num cantinho da praça, ou mesmo num estádio de futebol. Lembro-me das palavras do professor José Miguel Wisnik, quando falava, numa palestra, sobre o quanto um povo pode estar representado no jeito de jogar de uma equipe que represente uma nação.
Pois bem, sendo assim, de que modo a cidade de Vitória da Conquista está representada (ou estará) neste campeonato baiano que se inicia no dia 15 de janeiro de 2011? Em duas rápidas constatações, veríamos, de um lado, o Vitória da Conquista, que tem o bode como mascote. Por outro, o Serrano, numa profícua escolha de qual será a forma gráfica do mascote, representado por um Índio Mongoió.
Partindo dos mascotes, lembro-me que, quando da escolha do bodinho, a diretoria do Vitória da Conquista alicerçava a escolha de tal animal por ser ele um símbolo de resistência, a mesma notada no povo desta região sudoeste da Bahia. Inegável a ideia de que, aqui, este povo é bravo e lutador diante de percalços como a falta de chuva. Incontestável.
Igualmente coerente é transformar a figura do Índio mongoió no símbolo do Serrano. Um reconhecimento à bravura deste povo que habitava a região quando da invasão portuguesa. Massacrados, os mongoiós foram varridos deste lugar, dando lugar ao que se reconheceria como Vitória da Conquista, quase 200 anos depois.
Buscando aproximações do povo conquistense com a forma como estes dois times aparecem, o que dizer, então, das cores predominantes em respectivas bandeiras, escudos, uniformes? As cores verde, branca e vermelha predominam em ambas. Logo, se verá tremulando, no Estádio Lomanto Júnior, as bandeiras das torcidas Gaviões do Jurema (Serrano) e Criptonita, do Vitória da Conquista. Camisas e estandartes alvi-rubro-verdes tremulando numa arquibancada cada vez mais cheia de torcedores empolgados com mais uma temporada de jogos em tardes ensolaradas de domingo.
De um modo geral, a ida ao estádio preenche uma lacuna, caracterizada pela constatada falta de lazer do conquistense. Talvez a ideia seja muito reducionista, visto que, mais que uma simples seção, esta ida exige uma mínima preparação e gera uma igualmente pequena repercussão. Neste sentido, parece-nos que a partida não começa com o apito inicial, nem se encerra com o último ruído provocado pelo árbitro. Cite-se, como exemplo, o “bafafá” causado pela estreia do Serrano contra o Bahia.
Por meio dos entusiastas do futebol conquistense, a cidade respira um clima, em torno de 90 minutos de bola rolando, com eventuais minutinhos adicionais. Falemos de adesivos ou out doors espalhados pelas ruas e avenidas. Ou do simples registro do amigo Pedro, gerente de uma loja de material esportivo, que disse que a camisa do Vitória da Conquista é mais vendida que a do atual campeão brasileiro, o Fluminense. O que dizer, então, das piadas? Como aquela em que, diante da polêmica e chata novela, envolvendo o astro, garoto propaganda, empresário, produtor cultural e o jogador de futebol em alguns momentos, Ronaldinho Gaúcho, se diz que ele só estava em dúvida entre Grêmio, Palmeiras e Flamengo, porque o Serrano ainda não havia feito a sua irrecusável proposta.

Rogério Luiz Oliveira