sábado, 15 de janeiro de 2011

A cidade passa pelo campo de futebol

Nestes nossos diálogos com o espaço da cidade, estive pensando que uma cidade passa pelo campo de futebol. Seja ele de várzea, improvisado no quintal de uma casa, num cantinho da praça, ou mesmo num estádio de futebol. Lembro-me das palavras do professor José Miguel Wisnik, quando falava, numa palestra, sobre o quanto um povo pode estar representado no jeito de jogar de uma equipe que represente uma nação.
Pois bem, sendo assim, de que modo a cidade de Vitória da Conquista está representada (ou estará) neste campeonato baiano que se inicia no dia 15 de janeiro de 2011? Em duas rápidas constatações, veríamos, de um lado, o Vitória da Conquista, que tem o bode como mascote. Por outro, o Serrano, numa profícua escolha de qual será a forma gráfica do mascote, representado por um Índio Mongoió.
Partindo dos mascotes, lembro-me que, quando da escolha do bodinho, a diretoria do Vitória da Conquista alicerçava a escolha de tal animal por ser ele um símbolo de resistência, a mesma notada no povo desta região sudoeste da Bahia. Inegável a ideia de que, aqui, este povo é bravo e lutador diante de percalços como a falta de chuva. Incontestável.
Igualmente coerente é transformar a figura do Índio mongoió no símbolo do Serrano. Um reconhecimento à bravura deste povo que habitava a região quando da invasão portuguesa. Massacrados, os mongoiós foram varridos deste lugar, dando lugar ao que se reconheceria como Vitória da Conquista, quase 200 anos depois.
Buscando aproximações do povo conquistense com a forma como estes dois times aparecem, o que dizer, então, das cores predominantes em respectivas bandeiras, escudos, uniformes? As cores verde, branca e vermelha predominam em ambas. Logo, se verá tremulando, no Estádio Lomanto Júnior, as bandeiras das torcidas Gaviões do Jurema (Serrano) e Criptonita, do Vitória da Conquista. Camisas e estandartes alvi-rubro-verdes tremulando numa arquibancada cada vez mais cheia de torcedores empolgados com mais uma temporada de jogos em tardes ensolaradas de domingo.
De um modo geral, a ida ao estádio preenche uma lacuna, caracterizada pela constatada falta de lazer do conquistense. Talvez a ideia seja muito reducionista, visto que, mais que uma simples seção, esta ida exige uma mínima preparação e gera uma igualmente pequena repercussão. Neste sentido, parece-nos que a partida não começa com o apito inicial, nem se encerra com o último ruído provocado pelo árbitro. Cite-se, como exemplo, o “bafafá” causado pela estreia do Serrano contra o Bahia.
Por meio dos entusiastas do futebol conquistense, a cidade respira um clima, em torno de 90 minutos de bola rolando, com eventuais minutinhos adicionais. Falemos de adesivos ou out doors espalhados pelas ruas e avenidas. Ou do simples registro do amigo Pedro, gerente de uma loja de material esportivo, que disse que a camisa do Vitória da Conquista é mais vendida que a do atual campeão brasileiro, o Fluminense. O que dizer, então, das piadas? Como aquela em que, diante da polêmica e chata novela, envolvendo o astro, garoto propaganda, empresário, produtor cultural e o jogador de futebol em alguns momentos, Ronaldinho Gaúcho, se diz que ele só estava em dúvida entre Grêmio, Palmeiras e Flamengo, porque o Serrano ainda não havia feito a sua irrecusável proposta.

Rogério Luiz Oliveira

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